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MEU ÚLTIMO DIA NA TERRA

Sem querer tive que acordar, nem queria muito levantar da cama. Minha cabeça doía ainda, fui dormir tarde, tinha plena convicção que outro dia nasceria daquela madrugada. Assim, qualquer coisa recuperaria o sono depois. Logo nos primeiros minutos colhi o ônus da madrugada trabalhada. Olho aberto pela metade, luz do sol incomodando entre as frestas da cortina. O que me moveu foi a obrigação e não o prazer, tinha coisa para fazer. Me senti sísifo em sua punição divina de fazer a mesma coisa todos os dias.


Levantei, tomei uma chuveirada enquanto pensava com indiferença no que tinha para fazer durante o dia. Busquei a primeira roupa que estava próximo, não queria impressionar ninguém, não era o dia de causar uma boa impressão. Era só mais um dia.


Sai de casa, caminhei, falei com pessoas, tudo no mais terno e completo automático.

Sentei, tomei um gole generoso de café. O cheiro do grão torrado me causou o segundo sorrisinho do dia, lembrei que o primeiro surgiu quando vi uma foto do meu filho no celular.


Logo voltei para rotina de mais um dia, entrei no carro e me incomodei com o assento, também me irritei com o WhatsApp, parece Gremlins, tu responde uma pessoa e aparecem 20 mensagens, trabalho de sísifo. Já estava cansado antes do meio-dia.


Tratei todos “normal”, até porque se alguém se sentir triste ou chateado com meu jeito eu posso consertar amanhã.


Só pensava em dormir - “amanhã é um novo dia e parte da minha irritação é indiferença, era falta de um novo amanhã.”- Ledo engano, esse foi o último dia.


Uma mensagem urgente chegou, problema que resolvi deixar para amanhã. Novamente, não sabia que não tinha amanhã.


Sentei na mesa, comecei a resolver mais problemas, lembrei do prazo de um trabalho que está para esgotar, de um livro que tenho para ler, abri a aba da faculdade e vi provas que preciso entregar amanhã, me senti ansioso e preocupado, comecei a lembrar da escola para pagar, Unimed… “preciso ganhar mais dinheiro, nesse ritmo vou me endividar no futuro”. 


Mas que futuro? Que amanhã? Não sabia, mas era meu último dia.


A noite acalma as vozes externas para que as internar falem mais alto. Todos foram dormir, não deu para dar minha atenção a ninguém, eu tinha coisa para fazer, precisava preparar tudo para amanhã, mas… Não que amanhã?


Sem perceber encerrei meu último dia como encerrara todos os mais de 11500 dias que já vivi. Cheio de coisas e preocupações com o amanhã, mas nunca tinha me atentado que não existe amanhã.


Ansioso com o amanhã, irritado com o amanhã, cheio de expectativas com o amanhã, mas não existe amanhã… deixei de viver o propósito do meu último dia, pois estava tenso com o amanhã.


Lembrei de Jesus em meus últimos minutos do hoje: “Quem de vocês, por mais que se preocupe, pode acrescentar uma hora que seja à sua vida?”


O amanhã é a ilusão que nos seduz a abrir mão do hoje, a não viver o hoje, a não depender de Deus no hoje. O amanhã se torna um Deus que nos embriaga e distrai da dor do hoje, ludibriando com um possível melhor amanhã. O amanhã é a nossa falha tentativa de se emancipar de Deus. Ao invés de orar e confiar é muito melhor para e esperar que o amanhã resolva.


Não existe amanhã, para ninguém. 


Façamos de todos os dias nosso último dia na terra, vivendo plena, integral e completamente.


Tenha um feliz último dia… Por: Alexandre de Almeida



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